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O vício de amar

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Quando o assunto é convivência a dois as opiniões sempre divergem. Grande parte das pessoas que conheço que estão envolvidas em um relacionamento conta das dificuldades de dividir o dia-a-dia com o outro. Geralmente os relatos nem sempre são tão positivos. “Ah ele só pensa no lado dele”; “Ela é muito sentimental”; “Nós nunca conversamos”; “Ele não me entende”.... e por aí vai... Estes são apenas alguns dos argumentos que costumo ouvir para caracterizar uma “crise” no relacionamento. Mas o que percebo é que mesmo com todas estas dificuldades nenhuma das partes tem atitude para por fim à convivência. Porém ninguém sabe o que prende os dois, até mesmo o casal se pergunta o porquê de ainda estarem juntos. Há alguns que afirmam ser o medo da solidão.
A justificativa não é difícil de entender, já que o ser humano, por sua natureza tem a necessidade de está sempre rodeado de outras pessoas, contudo é um sacrifício bastante dolorido para o casal. Acredito que um relacionamento baseado na dependência dificilmente dá certo. Cada um perde o respeito por si, uma vez que acaba aceitando certas coisas que o outro o submete. Em diversas situações a pessoa passa por cima do próprio sentimento, perdoa o outro e esquece-se de um amor próprio que ficou escondido por baixo das mágoas. O problema é quando tudo isso se torna um hábito e um dos dois acaba não suportando mais. Geralmente, o fim do relacionamento é inevitável.
Dia desses ouvi de um amigo que o amor é um vício, que mesmo sabendo que faz mal não se consegue largar. Mas será mesmo que o amor é isso? É necessário sofrer por amor? Que amor bandido é este? Certa vez perguntou o célebre Renato Russo durante um de seus shows: “Quem aí já sofreu por amor? Muitos levantaram as mãos e Renato disse: “Se o amor é verdadeiro não existe sofrimento”. Amor não é vício, as relações baseadas na dependência só machucam, mal tratam a quem se submete perdoar sozinho. Até porque o amor deve ser recíproco, não se ama sozinho em uma relação, muito embora eu sempre tenha acreditado que um dos dois sempre se entrega mais que o outro.
Não tenha medo de perder, porque não se perde no amor; não tenha medo de estar fora do controle, porque o amor não se controla. Peça o contrário, peça que tudo saia do controle, morra de amor e se entregue sem medo de perder, não viva um amor de amarras, se possível faça uma desintoxicação do seu amor. A vida é muito maior que você, mas ela é construída a partir dos seus sentimentos. Ame, deixe a onda da dor passar por você, tenha fé e novamente Ame! E como diria Vinícius de Moraes: Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure.

Para viver um grande amor – sem violência, sem dor

O mês de setembro ficou marcado pela comemoração da passagem dos cinco anos da Lei Maria da Penha. Não existe dúvida de que esta lei já salvou milhares de vidas. Depois que a Maria da Penha foi sancionada as mulheres ficaram mais seguras de seus direitos e passaram a perder o medo de denunciar e quando a violência é denunciada o agressor sempre termina preso. Estive em uma homenagem na Câmara Municipal de Porto Velho, proposta pelo vereador Sid Orleans, que lembrou várias instituições e pessoas que trabalham na rede de enfrentamento à violência contra a mulher. Enquanto assistia à cerimônia de moção de aplauso, me peguei pensando em como deve ficar os sentimentos de uma mulher que é agredida.

O que sente uma mulher que é agredida justamente pelo homem que ela escolheu para ser seu companheiro, pelo homem que ela idealizou para a sua vida, para ser o pai de seus filhos? Infelizmente já acompanhei alguns casos de violência contra a mulher. A impressão que sempre tive é que os agressores possuem dupla personalidade. Em certo momento acaricia o rosto de quem dali há instantes estará espancando. Beija os lábios que em qualquer acesso de raiva ficarão inchados devido a um ato violento. Alisa com as mãos os cabelos que durante a fúria são puxados brutalmente. Declara sentimentos tão bonitos e fala palavras tão doces e dali a pouco, palavras tão severas agridem psicologicamente a mulher que ele tanto diz amar.

Olhos roxos, lábios sangrando e as marcas no coração de quem ama, de quem se decepciona, de quem nunca esperou ato tão brutal daquele com quem ela divide os dias, com quem compartilha os momentos felizes, com quem divide os melhores anos de sua vida. O olhar no espelho denuncia estas marcas, principalmente quando elas começam a sumir do rosto e a sensação de não acreditar não sai do coração, quando a mulher olha a sua própria imagem, o belo rosto corrompido pela violência, as lágrimas caem não só como tristeza, mas como sangue, da vergonha, do véu que até então era imaculado, protegido pelo sentimento e se tornou rasgado, perdido. O pedido de perdão é sempre inevitável, as promessas de nunca mais cometer o ato vêm cheias de lágrimas de arrependimento e o amor no coração da mulher acaba perdoando a quem tanto a machucou, a quem a violentou, a quem não a respeitou.

A agressão ainda é um fato presente na sociedade, não escolhe raça, idade ou classe social. A diferença é que as mulheres de classe social mais elevada acabam não registrando queixa das agressões sofridas por maridos e até namorados e na maioria das vezes essa denúncia não acontece por sentir vergonha. O que muitas mulheres não sabem também é que a agressão não vem apenas de forma física, mas psicológica também. O amor, cuidado e o respeito podem ser as peças chave para um relacionamento sem violência. A mulher não pode se calar, pois a violência sofrida diariamente causada apenas pelas lembranças dos momentos terríveis, com certeza se torna pesadelos para o resto da vida de quem sofreu o abuso.

E como diria o poeta Vinícius de Moraes – “Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor”.